Tirinhas da Vó da Tamandaré





Entre 2018 e 2019, vivi durante um ano na Bélgica, recebi uma bolsa de Pós-doutorado do PDE/Capes. Em meio a todos os absurdos que culminaram com a eleição do bolsonaro para presidente, eu estava longe de casa e sem poder conversar com a minha interlocutora de política preferida: a vó. Fumante inveterada, bordadeira e costureira  aposentada, 84 anos, e uma visão muito astuta dos jogos e teatros políticos da democracia e suas variações (ditaduras, exceções, Brasil). Boa de olho, mas mal dos ouvidos, a vó tem uma certa surdez, que a impede de ouvir ligações recebidas por celular ou conversas de vídeo, além de dificultar também as conversas presenciais. Louca pra trocar uma ideia com a velha, apavorada com as eleições presidenciais, e com saudade, resolvi fazer uns desenhos delas e colocar numa página do instagram, para minhas primas e tias acompanharem e mostrarem para ela. Assim, conversaríamos.
Algumas imagens eu imaginei a partir dos relatos da mãe, que quase sempre começavam com: "Estive na vó hoje, ela está muito bem. Daqui a pouco vai ser presa. Tá sempre naquela janela, fumando e falando mal da polícia, da prefeita, do bolsonaro". 
A vó não mora na Tamandaré, em Pelotas/RS, mas da nossa família é a última aposentada brasileira. Sua opinião sobre a célebre Velhinha de Taubaté é contundente: "Velha boba!".

(Agora, em isolamento por causa da pandemia de Covid-19, podendo conversar por telefone, mas ainda apavorada com o presidente da república evangélica brasileira e seus tentáculos podres, estamos longe da velha. Cuidem dxs velhxs de vocês, não permitam que eles sejam tratados como inservíveis.)









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